Yoga
- ACCS
- 19 de mar. de 2018
- 3 min de leitura

por Marie Ofinger
A minha experiência com o Yoga para o grupo da ACCS Trânsito poético, formado por deficientes visuais do CAP-Nazaré e alunos da UFBA.
Sou instrutora de Shivam Yoga, me formei em Ouro Preto em 2016. Seguindo os nossos encontros semanais, com os alunos da UFBA e quinzenais com as pessoas atendidas pelo CAP-Nazaré, recebi a proposta de fazer uma vivência de Yoga para o nosso grupo. Seria uma prática de Shivam Yoga no CAP. Foram disponibilizados os tatames da instituição, coloquei o som para tocar uma música lenta, de início de prática, e la fomos começando.
Prevendo que ia fazer Yoga com pessoas que não costumam praticar alongamentos ou atividades físicas, preparei uma sequência curta de posições iniciais. O Shivam Yoga, que pratico, utiliza sequências de um mesmo exercício em diferentes fases, começando do mais fácil para o mais difícil. São as fases Sukha (fácil), Ardha (inicial), Raja (completo) e Maha (mais que completo). No meu caso, trabalhei com posições nas fases Sukha e Ardha apenas, para não exigir demais num primeiro encontro.
Primeiro expliquei o significado de Yoga, que é União, da mente e do corpo, do emocional e do racional, que trabalha desbloqueando os centros de energia chamados Chakras. Os principais são sete, localizados desde o alto da cabeça até a base da coluna, cada um representando forças materiais, profissionais, de saúde, de emoções, de expressão dos sentimentos, de intuição, de ligação espiritual.
De acordo com o Yoga e o Tantra, a medida dos processos físicos e emocionais da nossa vida, dos obstáculos que enfrentamos, vamos internalizando algumas dores, alguns maus estares, em partes do nosso corpo, criando couraças que vão se solidificando ao longo dos anos. O Yoga trabalha com exercícios psico-físicos no intuito de retirar esses bloqueios acumulados no dia a dia. Então quando se pratica um alongamento, trabalha-se também o centro de energia localizado na proximidade, e a mente. Propiciando mais equilíbrio, força, determinação, disciplina, flexibilidade, intuição e consciência.
Então comecei a fala introdutória da primeira parte da aula: é um momento de concentração (Dharana), de silenciar os cochichos da mente, de aquietar o corpo e o cérebro. É também um excelente preparo para quem quiser meditar, são apenas 3 minutos que permitem malhar o domínio da mente, como um exercício físico, só que mental.
Depois passei para a parte de exercícios de respiração (Pranayamas), fiz o mais simples Pranayama, de inspiração pelo abdomen sem retenção, onde o importante é estar consciente do movimento do ar em direção a barriga, do inspirar e do expirar, sem levantar os ombros, destravando e aquecendo o praticante para a prática a seguir.
Comecei então a terceira parte da prática, os exercícios de desbloqueio (Asanas), com os movimentos em diferentes posições. Observei que alguns conseguiam, outros não, como de costume, cada um indo até o seu limite. Teve até um cidadão que aproveitou para deitar e tirar uma soneca! Mas a maioria estava seguindo e conseguindo, cada um do seu jeito.
Para dar os comandos dos movimentos com o corpo, o Shivam Yoga usa uma nomenclatura própria na procura de um entendimento claro e direto dos exercícios. Os comandos são bastante detalhados, justamente para que mesmo um deficiente visual possa seguir tranquilamente a aula.
Este cuidado desenvolvido pelo Mestre Arnaldo de Almeida deve-se também a ele ter se formado em letras, por tanto cada palavra é escolhida com carinho. A fala segue ainda um código de ética para não dar oportunidade de duplo sentido, tipo: “abra as pernas” é trocado por “separe as pernas”. É uma forma respeitosa que tem o método para interagir com as pessoas.
No entanto, surgiu na prática do dia no CAP, o resultado inesperado de dispor de tradutores para a minha linguagem formal, que transformavam os meus comandos em linguagem coloquial, para facilitar a compreensão do meu público. De um lado, foi muito legal, porque se tornou engraçado, as expressões usadas faziam rir a audiência. Do outro lado, retirou a concentração que tinha sido construída na primeira parte da abertura, o que causou dispersão da atenção do público e menos seguimento na execução dos comandos. Mas isso em si não chegou a abalar a execução das posições.
Pois foi muito interessante sentir que a linguagem realmente precisava ser adaptada para o público, que teve pouco acesso à educação formal. Tal vez seria mais fácil aplicar os comandos tradicionais do método aos poucos, introduzindo-os progressivamente num segundo encontro ou em encontros sequenciais, onde os ouvintes estariam se acostumando com a linguagem, que não chega a ser tão complexa assim. Uma segunda opção poderia ser, desenvolver, junto com eles, uma linguagem própria, que seria tal vez a melhor opção para contemplar as especificidades deste grupo. Tive até o convite de voltar do professor do CAP…
Quem sabe? Fica a possibilidade ;)
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